Google+ Reação e Investida – Parte2 – Sem piedade! | A Pirâmide de Kukúlkan

O último reduto onde os Asseclas do CONCLAVE encontram-se...

Reação e Investida – Parte2 – Sem piedade!

(Ruído de dedos estalando) Certo, Michelzinho. Segunda rodada? OK! A República? Bom. O Príncipe? Está melhorando o nível de tua leitura (pra quem antes dava uma maior preferência a “literatura de uma mão só...”)? Humm, porém, tens certeza de que vais querer discutir Filosofia... comigo? Tudo bem, por tua própria conta e risco... No mais bato pé e tenho ao meu lado Aristóteles ao qual já a muuuuuuuuito tempo atrás afirmava que literatura, teatro e musica alienava o povo. E aí? Vai encarar ele? Se eu encaro Aristóteles? Claro, por que não? Primeiramente, já na sua “Poética”, Aristóteles estabelecia a verossimilhança e não o vero como o objetivo do poeta trágico. Propondo a este retratar não “os homens como eles são” mas “tais como devem ser”, afora inúmeras outras considerações derivadas acerca da eticidade original e da função da obra de arte, o Estagirita coloca a necessidade da obra ater-se aos princípios de unidade tempo, ação e lugar que a capacita a condensar as ações e concentrar a vida de modo a que ela, afastando-se da dispersão do contingente, revele um sentido e promova a catarsis e o auto-reconhecimento do espectador. E, assim fazendo, ela se vê conferida de sentido e oferece um conhecimento da verdade que antes se ocultava. Tal experiência da verdade é o que muda o espectador e, portanto, é um outro tipo de verdade que se anuncia na obra de arte e que não pode ser compreendida como adequatio entre a obra e algo exterior a ela: é a verdade como desvelamento, produção do sentido, experiência do mundo da obra que se intromete e faz vacilar o mundo daquele que se envolve com ela. Diga-me, ò mortal, onde Aristólteles afirmava que as Artes alienavam o Homem? Veja bem, esta função de desvelamento da verdade interna da obra de arte só ocorre quando o intérprete confere-lhe o sentido próprio da interpenetração de seu mundo com o mundo da obra. A existência da própria obra para o intérprete só ocorre neste momento de comunhão com a sua existência. A qualidade da obra para o intérprete/espectador, portanto só se revela na medida em que esta lhe desvela não só seu próprio mundo, mas ajuda-o a descobrir novos sentidos para seu próprio mundo, sua própria existência. Eis como – aos poucos – define-se modus através do qual a Arte leva o Homem a ver novos nexos no mundo a sua volta. Entenda, o que experimentamos e nos atrai em uma obra de arte é o fato de que ao contemplá-la podemos conhecer e reconhecer algo nela e, simultaneamente, em nós mesmos. Por outro lado, podemos considerar o artista como um intérprete do mundo em que vive e de sua própria existência ao conceber o objeto artístico. Assim, a tarefa poética – criativa – do artista seria ao mesmo tempo uma tarefa interpretativa. Esta abordagem abre-nos a vertente da criação artística para além da materialidade do objeto em si – autônomo – possibilitando-nos a compreensão de diversas manifestações artísticas contemporâneas onde o enfoque no processo de criação e interpretação prescinde da opacidade semântica do objeto para concentrar-se no evento poético – como no Cinema autoral e nas perfomances e os happennings a partir da década de 60. Todavia, Michelito, Aristóteles não foi muito além de suas possibilidades, limitado como estava em seu contexto: a Antigüidade. Para continuar minha argumentação, recorro àquele que é considerado o último urro primal do Existencialismo a seu deus: Heidegger! Pois a realidade atual, entretanto, conduz-nos rumo a outra atitude. O grande filósofo alemão já apontava, nos anos 50, para um cenário de alienação crescente do homem em relação ao mundo material em que vivemos: São suas as palavras daqui por diante: Todas as distâncias no tempo e no espaço estão encolhendo. O homem hoje chega em uma noite, num avião, a lugares que antigamente demandariam semanas e meses de viagem. Ele hoje recebe informação instantânea, por rádio, de eventos de que antigamente ele só ouviria falar anos após o ocorrido, se tanto. Mas a abolição frenética de todas as distâncias não traz proximidade; porque proximidade não consiste em redução de distância. O que é menos remoto para nós em termos de distância, em virtude de sua imagem num filme ou seu som no rádio, pode permanecer longe de nós. O que é incalculavelmente longínquo para nós em termos de distância pode estar próximo de nós. A curta distância não é, em si, proximidade. Nem a grande distância é longínqua. O distanciamento entre mundo concreto e o homem são apontados por Heidegger como indícios de alienação do homem em relação ao mundo em que vive, em relação às coisas materiais que nos cercam, assim como a abstração e generalização em relação à realidade do pensamento científico moderno. Esta alienação seria a causa das grandes crises contemporâneas, desse modo percebe-se, meu amigo, que o que vemos hoje diante das grandes telas nada mais é que uma evolução de fatores a muito em andamento em nossa civilização. Um exemplo dos fatores desta crise do homem contemporâneo nos é dado pelo próprio Heidegger: O conhecimento científico, que se move dentro de sua própria esfera, a esfera dos objetos, já aniquilou as coisas como coisas muito antes da explosão da bomba atômica. A explosão da bomba atômica é apenas o exemplo mais grosseiro de todas as confirmações grosseiras da aniquilação da coisa já há muito atingida: a confirmação de que a coisa como coisa permanece nula. Assim, se é tarefa da Arte ajudar a conferir sentido à existência dos que com ela travam contato, uma importante linha de trabalho artístico está exatamente em recuperar a importância da materialidade das coisas, no sentido heideggeriano, na existência do homem. Parece-me, por isso, mais produtiva a concentração da produção do objeto artístico (filme, quadro, escultura, arquitetura, HQ, literatura, peça de teatro, música...) como uma coisa entre outras – o homem incluído –, que delas se destaca por sua capacidade de síntese e compreensão destas coisas mesmas. Detalhe: Coisa, para Heidegger, significa aqui reunião, significa a propriedade de um objeto de ser reunindo em si um mundo: a coisa coisa [verbo]. Coisando ela fixa terra e céu, divindades e mortais. Permanecendo, a coisa traz os quatro, em sua longinqüidade, próximos um do outro. Sei que parece um pouco complicado a primeira vista, mas é só forçar um pouquinho o raciocínio... Vai, Michel, tu consegue, afinal, quem lê Aristóteles...
Da próxima vez falaremos da Dialética Aristotélica, creio ser mais a tua praia... Até.
Sidinei Lander da Silva Pereira: Mestre de RPG, aprendiz de escritor, leitor voraz, quadrinista fanático, cinéfilo compulsivo, agnóstico independente, livre-pensador, fã incondicional de O Senhor dos Anéis (livro e filme), música para mim é Clássica, Jazz, Blues, Rock'n Roll e Metal! E tenho dois gatos... Quer saber mais sobre mim? Veja meu perfil no Google Plus!

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