Mais uma vez meu amigo Michel extrapola na generalização. Seu comentário foi tão impertinente que mereceu não outro comentário em resposta, mas um novo post.
Eis-o!
Vamos por partes, como sempre digo.
Primeiro: Hollywood não filma só b... como ele tão eloqüentemente disse, muito ao avesso disso!
Da mesma forma que qualquer outra grande indústria cultural (que basicamente visa o lucro através da comercialização/exposição daquilo que ela determina como Arte) Hollywood (assim como Bollywood na Índia, a antiga Cinelândia no Brasil e por aí vai) comete seus pecados, mas também tem suas virtudes, qualquer ser humano que haja tido o deleite de sentar-se na sala escura perante o écran tem pelo menos um título que lhe vem à mente e que ele considere uma obra impecável! É uma resposta emocional? É. Mas esse é justamente o objetivo do Cinema: obter uma resposta emocional. Seja ela positiva (como o é na maioria dos casos, haja vista o sucesso da indústria cinematográfica) ou negativa (como é o caso do meu amigo Michel em 99,99% dos casos...) e até onde se sabe ninguém (fora uma minoria intelectualóide) vai ao cinema para se informar ou procurar substratos para tornar-se uma pessoa melhor (se bem que o sucesso do pseudofilme de auto-ajuda “O Segredo” pode colocar esse ponto em discussão, mas deixemos isto de lado por um momento), as pessoas vão ao cinema para se divertir! Basicamente, assim como quase tudo o mais na vida, cinema é ESCAPISMO! E nesse sentido ele é um dos produtos mais eficientes da indústria midiática/cultural. A partir do momento em que tentamos impor a algo/alguém a nossa única visão de como deveria ser, tolhemos tudo aquilo que aquilo/aquele poderia ser. E se tem algo que é realmente vasto (basta ver como são diferentes as concepções de cinemas em países diversos) é a expressão cinematográfica.
Ela visa lucra? Sim. É errado? Vai da cabeça de cada um...
Segundo: "Filmes de boa digestão" é o c...alho!!! Se fosse tão simples: tudo o que eles fizessem seria sucesso instantâneo! Feito miojo! E sinceramente: conheço muita gente que ODEIA miojo!!! Isso não quer dizer que o raio do miojo seja ruim, só que ele não é uma unanimidade! E eu ainda sou mais da opinião do Nélson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra!”. O cara foi tão ladino quando lançou essa pérola que até quando alguém discorda dela, acaba reforçando o argumento do sujeito!
Hummm, deve de ser um mime...
Alguns filmes agradam verdadeiras multidões, já parou para pensar o porquê? Por que algo neles fala diretamente a uma parte que é comum a cada um de nós, isso é tão verdade, que até quando alguém não gosta de um filme que é um sucesso estrondoso, essa pessoa não consegue ficar indiferente, ela expõe sua opinião (normalmente muito bem embasada em sua própria concepção) de o porquê daquele filme ser uma “bomba”. Seja ele ou não! Tristemente este argumento aplica-se em todas as esferas da Cultura, incluindo a música, mas não vou tocar nesse assunto agora ou do contrário irei me alongar mais do que desejo.
Terceiro: “massas alienadas de Harry Potters e Senhors (sic!) dos Anéis”. Passado o primeiro impacto do estupro gramatical, vamos adiante: Alienante em que sentido? Cinema é escapismo e nesse ponto Potter é exato em sua súmula de: Fantasia, Infância, Luta do Bem contra o Mal, Crescimento e Provação. Diga-me, esquecendo o filme de que falamos anteriormente por um breve instante, quantas estórias tem como base EXATAMENTE estes mesmos argumentos. Esquece! Citemos autores: Charles Dickens, Shakespeare, Proust e nem vou falar dos gregos... E até onde eu si nenhum desses autores foi acusado de ser alienante. Não querendo comparar J.K.Roling com qualquer Deus da Literatura, muito longe disso – ela própria afirma estar anos-luz dos velhos mestres e longe de eu querer defender a série de Potter (tanto os livros como os filmes), mas discordo de qualquer forma de generalização, ainda mais quando seus argumentos mostram-se tão... frágeis! E não esqueçamos duas coisas: a série fez algo que os antigos mestres – por superior que fosse a qualidade de seus escritos e isso permanece inquestionável – não puderam: incentivou a leitura em meio ao público infante, uma parcela da sociedade viciada em Playstation, Bob Esponja e música de qualidade questionável (pra dizer o mínimo)! Só isso já é algo tão digno de louvor que faria a Sra. J.K.Roling merecedora de uma estátua em bronze na frente de cada livraria deste planeta! E segundo: a literatura dela é voltada ao público infanto-juvenil! Por que raios seria alienante? É precisamente a leitura adequada a faixa etária e se isso incutir o gosto pelo hábito da leitura em uma nova geração inteira, a medida de que eles crescerem naturalmente irão migrar para literaturas de outros tipos: romance histórico, ficção científica, novelas, contos, crônicas, alfarrábios, almanaques, bulas de remédio... Ahn esqueçam essa última parte! Resumindo: os novos leitores têm que partirem de algum lugar e se for de um livro de 200 páginas para outro de 300 e deste para um de 400, então, tem 100% do meu apoio!!!!
E quanto a infeliz citação acerca de “O Senhor dos Anéis”, sinceramente, não mereceria sequer uma linha, MAS EU NÃO VOU DEIXAR PASSAR BARATO, VIU, MICHÉL????
Até o dia em que alguém chegar até mim e dizer na minha cara com argumentos sólidos como blocos de granito o que tanto os livros como os filmes tem de tão ruim a ponto de desaboná-los da maneira como colocastes, para mim, a meu ver, ainda não foi feito NENHUM filme superior ao SENHOR DOS ANÉIS desde que O RETORNO DO REI saiu de cartaz do último cinema em 2003! Em tempo: pela última vez:
NÃO FORAM TRÊS FILMES, ERA UM ÚNICO FILME EXIBIDO EM 3 PARTES!!!
Lembrem-se: é humanamente impossível passar sentado 9 horas consecutivas em um cinema sem sofrer uma gangrena nas pernas e sair dali direto pro HPS para realizar uma amputação! Dupla!!!
Então, Michel, dá um tempo!!!!
Quarta: “A única salvação é o cinema alternativo europeu!” Bem, essa com certeza ganhou a versão virtual da Framboesa de Ouro para crítica cinematográfica!
UM: Cinema alternativo existe em qualquer lugar, inclusive nos EUA, Tarantino começou assim, Sam Raimi, idem e praticamente TODOS os grandes cineastas fizeram algo que possa ser chamado de “alternativo” ou “não-comercial”. Tens que ver as tosquices que Peter Jackson filmou no início da carreira!
DOIS: Salvação um ovo! O circuito alternativo (tanto o europeu como o de qualquer outra nacionalidade) produziu tantas bombas como o chamado “circuito comercial!” Na hora de fazer besteira, não importa a origem: todo mundo faz m...! Ou tu vais dizer-me que gostou de “A Leste de Bucareste”, “Hearts and Armour” (Duelos de Amor), Night Train to Venice (O Último Trem para Veneza) e por aí vai...
Quinto: “Dobermann, grandioso filme francês!” Humm. Tudo bem, o filme é bom, mas é basicamente a história de um ladrão perseguido por um tira corrupto e tem a Mônica Belucci... É um filme com qualidades, mas não vejo no que ele seria TÃO diferente de dezenas de outros filmes policiais americanos, japoneses ou europeus que já assisti (e garanto: vi muitos, MESMO!!!). Basicamente, um filme de “polícia e ladrão” tão escapista como qualquer Potter ou Matrix da vida...
Sexto: “Hollywood só produz est...” Mais uma generalização infeliz e contraditória, diga-se de passagem, pois “recuerdo” muito bem de teus filmes favoritos: Matrix (americano até a medula), Amnésia (seu diretor Christopher Nolan veio a filmar “Batman – Begins”), Os Suspeitos (significativo, Bryan Singer depois fez “X-Men – O Filme”). Escolhas interessantes: um blockbuster, o segundo entupido de prêmios, elogios da crítica e indicado à premiação da Academia e outro com dois Oscars!
Hummm, pra quem alega detestar Hollywood, teu “guesto” está americanizadamente suspeito...
De qualquer forma sempre é bom receber posts dos amigos!
Até!