Longe dali e semanas depois,
em um dia particularmente
ensolarado e luminoso,
a nau Lei de Elizabeth
e o Golden Hind
adentram em triunfo
ao porto de Londres.
Recebidos com rebuliço
pelo populacho
e honras militares
pelo alto oficialato
britânico.
No dia seguinte,
devidamente descansados,
recompostos e em trajes
apropriados,
apresentam-se perante a
própria
Rainha da Inglaterra.
Formalidades, pompa e
circunstância:
tudo seguindo à risca o
protocolo,
esta entidade tão cara aos
britânicos.
Perante a corte e
demais autoridades presentes,
Francis Drake e Narval
fazem um breve relatório
de suas aventuras
e enfrentamentos com o
inimigo,
apenas poupando a todos
dos detalhes mais
sanguinolentos,
pois o banquete real
estava por ser servido.
Mais tarde, a portas cerradas
em uma audiência particular
com Sua Majestade:
Francis
Drake,
Narval,
Johnny
Wisblender,
Lady Cathéryn GreenStell of
York
(mais conhecida como a pirata
Morgan),
Aislyin e Sarresian
(presente por influência de
John)
relatam em detalhes os
acontecimentos,
muitos dos quais deixam a
soberana
literalmente sem fôlego!
Ao final da narrativa,
Elizabeth ergue-se de
sua Poltrona Real,
caminha silenciosamente pelo
salão
e voltando-se ao pequeno
grupo de corsários diz:
― Vós enfrentastes aventuras sem fim
e apesar de o tesouro espanhol
haver se perdido,
encontraram e trouxeram de volta
minha amada sobrinha.
E isso para mim tem mais valor
que todo o ouro das colônias.
Lady Cathéryn faz uma mesura,
inclinando-se perante Sua
Majestade
e aproveitando o ensejo pede a
palavra.
― Excelência, durante o decorrer
de nossa jornada, em que
fui tão heroicamente resgatada
por estes bravos homens;
conheci o amor...
Elizabeth arregala os olhos.
― De forma que venho a vós
pedir-lhe a benção para nossa união.
A sobrinha da rainha estende a mão
a Narval que a segura
com viril delicadeza e reitera o rogo
feito por sua amada.
― É verdade, Vossa Majestade,
nossos corações
se encontraram no mar
e desde então sonhamos
com este momento...
– antes que Narval prossiga
a rainha ergue a mão e ele se cala.
Elizabeth I aproxima-se de sua protegida,
beija-a na testa e anui.
― Vossa felicidade é
minha felicidade, Cathéryn.
Se ama de fato a este homem,
permito e abençoo vosso enlace.
– e voltando-se ao capitão
aconselha-o com severidade.
― Estou lhe concedendo o tesouro
mais preciso do Império Britânico,
capitão Narval. Zele por ela
de todo coração e a proteja-a
com vossa vida.
– ao que o pirata responde
respeitosamente:
― Sempre, Majestade, sempre.
Em terra e no mar.
Nesse instante, a doce e suave nobre
revela um brilho diferente no olhar.
― Majestade, se não for abusar
dos vossos favores, gostaria
que considerasse meus préstimos
ao Estado não apenas no papel
de vossa conselheira,
mas como corsária sob
a bandeira do Império.
O pedido de Lady Cathéryn
colhe a rainha de surpresa.
Aturdida com aquela
ideia estranha ela hesita.
É quando Francis Drake
adianta-se e expõe
seu apoio à Morgan.
― Excelência, Lady Cathéryn
deu provas incontestes
de ser uma grande capitã,
perfeitamente capacitada
a comandar seu próprio navio.
E, por mais que me custe admitir isso,
se não fosse a coragem e desenvoltura
de sua sobrinha, temo que esta missão
não acabasse bem...
Impressionada com o testemunho
ofertado por seu maior
comandante naval,
a rainha se pronuncia:
― Esta seria uma decisão inédita
no reino britânico: uma mulher
a comandar o próprio navio!
E sob bandeira corsária!
Terei de refletir um pouco
antes deliberar.
E dirigindo a palavra a Drake
intima-o a uma nova missão.
― Nossos espiões em Madrid
revelaram que Filipe II pretende
enviar toda a Invencível Armada
contra o Reino Unido.
Esta será com certeza uma batalha
a ser registrada nos livros
e caberá a vós liderar nossa esquadra.
Diga-me, capitão Francis Drake,
estais pronto para
ser parte da História?
Sem hesitação o Corsário da Rainha
ajoelha-se perante ela,
desembainha a sua lâmina
e segurando-a pelo cabo
afirma categórico:
― Minha espada sempre esteve
e sempre estará aos vossos serviços,
Majestade.
Em ato contínuo, os demais
repetem a mesma ação
inclusive as mulheres,
apesar de não portarem armas
(difícil mesmo foi para
John Crow e sua perna-de-pau).
― Vós vos reportareis apenas a mim
e ao Almirante Charles Howard.
A reunião estende-se por
mais algum tempo
e ao fim todos se despedem
respeitosamente de Sua Majestade.
Porém, antes de sair da sala,
Elizabeth detém John Crow.
As portas fecham-se
com um estrondo
e ambos ficam a sós
no aposento.
Duas semanas depois
o Golden Hind e
a belonave de Narval
emergem em perfeita condições
do Estaleiro Real.
Assim como o
novíssimo galeão
destinado a única
capitã corsária da
Marinha de Sua Majestade.
E Morgan não hesita ao batizá-lo:
Killer Dagger II.
Nem é preciso dizer
as sérias ressalvas que Narval
fez a esta denominação...
Mas como convencer aquela
mulher?
No lançamento da belonave
um velho lobo do mar
acompanhado de seu
indefectível mascote
vem dar os parabéns
à capitã e seu noivo.
Narval o recebe jovial
e à moda bucaneira:
― John Crow, sanguinário
pirata maldito! Se existe
um bastardo filho
de uma rameira com um demônio,
és tu! Merecia a forca,
ter o corpo coberto de alcatrão
e penas para ser exposto
ao desprezo da plebe!!!
Todavia, dentre todos nós,
foi quem a Sorte mais favoreceu!
Caístes nas boas graças
da Rainha, velho pirata!
John responde ao cumprimento
com igual cordialidade:
― Não foi bem nas graças, Narval....
Foi no leito real mesmo!
Sua Majestade tem um fraco
por homens broncos e rudes
fedendo a maresia e a carnificina.
A conversa animada estende-se
por mais alguns minutos,
em seguida o velho corsário
manquitola até seu novo navio,
uma pequena nau, de nome Moreia.
Baixo poder de fogo,
porém a mais veloz embarcação
sob a bandeira inglesa e
a única a bater o Golden Hind
o em uma disputa.
Outro que se deu bem
foi Sarresian “Reneger” Mèrton,
que beneficiado
pela intervenção
de John junto à rainha,
livrou-se de um grave
problema familiar:
uma chantagem sórdida e suja
que ameaçava sua família!
Graças à influência de Elizabeth
I
junto ao rei Henrique de
Navarra
(Henrique IV) sua família agora
contava com o amparo da
casa dos Bourbon.
Continuou sob
o comando de Narval
e alçou posto de contramestre
no recém-reformado Lei de Elizabeth.
Ficou famoso em cada taberna
de Londres por
seus feitos
na Ilha do Desespero
(onde dizem que chegara
a fazer oito ataques por turno
seja lá o que isso signifique...)
e que salvara Morgan
das garras nefandas
do próprio Sangre!!!
Aislyin por sua vez,
permaneceu ao lado de Morgan,
como sua Segunda em Comando
e secreta amante
(Narval fazia-se de cego
para tais “preferências” dela).
Mas um incidente estranho
acontecera na viagem
de retorno à Inglaterra.
Ainda no navio de Drake,
na noite anterior ao encontro
com a nau de Doder de Graeff
e o galeão de Narval.
Estava ela dormindo
em sua cabina (uma das poucas
a bordo ainda inteira),
quando recebeu uma estranha
visita
que a chamando-a por
seu nome de batismo a
despertou.
Soerguendo-se na cama,
ainda sonada, ela tentava
entender
o que acontecia. Alguém
chamá-la
por seu nome original era
deveras improvável, haja vista
as circunstâncias de sua vida.
Com a luz às costas do vulto,
ela não conseguia divisar o
rosto,
que apenas repetia seu nome
de modo sinistro.
Foi quando Aislyin percebeu
alguma coisa gotejando
de sua mão direita:
uma espada diferente
de qualquer outra
que ela já vira antes.
No chão uma poça de sangue.
E oscilando macabramente
à mão esquerda... algo!
Súbito ele atira aquilo
na direção dela.
Simultaneamente impactam-se
sobre seus pés e colo
duas cabeças recém-decepadas!
Todavia, não se tratavam
de desconhecidos:
a seus pés ainda oscilando
de modo indeciso,
a face desprovida de vida
do único homem que ela amou
com plenitude em toda sua existência
e olhando para ela com órbitas
vazias,
ali, aninhado em seu colo
o rosto de seu amado, violento
e incompreensivo pai.
A figura na porta ri com escárnio,
levanta a espada à altura dos
lábios
e parece lamber o sangue
gotejante da lâmina,
dá um passo para frente
e mostra a face zombeteira à
luz.
A pele amarela,
os olhos finos: oriental!
Um rosto gravado em brasa
na carne-viva de sua memória
de modo indelével.
Ainda gargalhando,
dá dois passos lentamente
para trás e a porta
que estivera aberta
atrás dele todo o tempo,
fecha-se!
Um brilho verde foi a última
coisa
que ela percebeu antes de
desmaiar.
Ao acordar não mais viu as
cabeças
em lugar algum, mas sangue
por todo lado: chão, paredes,
cama, móveis, teto, porta,
roupas, tudo, tudo, TUDO!!!!
Sai correndo gritando
seminua pelo navio.
Dos olhos vertiam-lhe
lágrimas de sangue!
Após o rebuliço Drake
promove uma busca pente-fino
por toda nau.
Nada encontra:
cabeças, sangue, corpos
ou o tal oriental.
Os anos se passarão,
porém Aislyin jamais esquecerá
aquele rosto, muito embora
nunca tenha voltado a vê-lo
ou entendido o que acontecera!
Até hoje...
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Após uma longa viagem os piratas ingleses aportam em Londres... |
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...onde são efusivamente recebidos pelo povo... |
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...e pela própria Rainha da Inglaterra... |
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...Elizabeth I. |
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Na corte Drake e Narval relatam suas aventuras... |
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...até que o pequeno grupo de corsários é recebido por Sua Majestade em uma audiência privada... |
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...na qual detalhes escabrosos antes não revelados são narrados à rainha... |
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...assim como a relação de Morgan e Narval! |
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Recuperada dos sustos e surpresas, Elizabeth I comunica Drake e os demais da nova missão que os aguarda.... |
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...o inexorável avanço da Invencível Armada! |
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Francis Drake e os demais empenham suas vidas e honras na defesa do Império Britânico. |
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Nos estaleiros as naus recebem os reparos necessários... |
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...e finalmente Morgan toma posse de seu novo vaso de guerra... |
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...que ela batiza de Adaga Assassina II (contra a vontade de Narval, diga-se de passagem)! |
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Narval e John Crow tem uma amável conversa.... |
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...na qual o velho pirata revela certas "preferências" de Sua Majestade... |
...que ele soube atender perfeitamente, tanto que rendeu-lhe um novo galeão! |
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Sarresian também foi favorecido por Elizabeth, graças a intervenção favorável de John! |
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Aislyin continuou como Segunda em Comando na embarcação de Morgan... |
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...e sua amante (não muito) secreta! |
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Mas nem tudo são rosas na vida da Louca. Na viagem de retorno a Inglaterra sua cabina foi invadida... |
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...por alguém portando uma espada diferente de qualquer outra que ela já vira antes... |
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...e que a presenteou com dois macabros souvenires... |
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...revelando-se pouco antes de desaparecer por completo... |
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....em um brilho verde que refulgiu por um fugidio instante... |
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...deixando em seus olhos lágrimas de sangue! |
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Atreva-se, diga-me o que está pensando!
Se veio até aqui, não recue!
Se és contra, a favor ou muito pelo contrário(?!),
tanto faz...
Afinal, esta é uma tribuna livre.
E uma certeza podes ter como absoluta:
RESPOSTA TU TERÁS!!!!!!