Em terra um estupefato
capitão Sangre exclama:
― E
não é que o desgraçado
conseguiu
mesmo?
Por
todos os diabos
dos
600 Círculos do Inferno!
Ele
conseguiu! HÁHÁ HUÁ HUÁ,
HÁHÁ
HUÁ HUÁ, HÁHÁ!!!!
Gargalhou o velho pirata
com uma alegria que
há muito desconhecia!
Algum tempo depois
ele está ao pé da praia aguardando
a chegada de seus marujos.
―
Adiantaram o banho anual?
Sangre não era dado a gracejos,
aquilo com certeza era um bom sinal.
Encharcado da cabeça aos pés,
Ramirez esboça um
sorriso amarelo e responde
apontando as carcaças
semi-devoradas de piratas
que não tiveram a
mesma sorte que ele:
― É
vero, capitão. E
alguns de nós enchemos
as
barrigas dos peixes.
Sangre sacode a cabeça,
aproxima-se, põe a mão
sobre o ombro do ex-imediato
e diz em tom consolador.
―
Lamentável. Eram bons marujos.
Mas
é nosso destino, rapaz,
morrer
pelo aço, pela pólvora
ou
pelo mar.
―
Ou pela Magia... – completa o bucaneiro.
O capitão soergue a sobrancelha
e anui.
―
Sim, alguns pela Magia...
Ore
a teu deus para que
esse
nunca venha a ser teu fado.
O
amplexo do mar
ou
as mandíbulas dos tubaronnes
são
mortes mais dignas
e
menos dolorosas...
Enquanto seu superior se afasta
em direção ao escaler mais próximo
Ramirez reflete sobre aquelas
misteriosas palavras.
―
Como assim menos dolorosas?
O
que poderia ser pior que ter
o
corpo mastigado
e
devorado ainda vivo?
Neste momento acercam-se dele
os amigos Cervantes, MacGregor
e o Onça.
―
Parece que escapamos
novamente
às garras da Morte!
– comemora o escocês.
―
É... Mas vi o sorriso cruel dela
bem
de pertinho quando
um
daqueles monstros marinhos
devorou
o Lagosta...
―
Que monstro marinho?
– inquire Ramirez intrigado.
― Tubaronnes! Esse cagão se borra
de
medo dos peixes!
– debocha Chuk-Chuk.
―
HAHAHAHAHAHAA!!!!!!!
– ri da desgraça alheia
o ex-imediato de Sangre.
― E
tu, Onça? Deves ter corrido
sobre
as águas para escapar
daquelas
mandíbulas famintas!
– perquire Cervantes ao companheiro.
―
Acreditam que depois
de
me fazer costurar todo
o
velame do navio, Sangre
me
fez a arrastar a embarcação?
O
velho sabe ser cruel quando quer...
Revolta-se Estevãn, porém, Ramirez
(velho conhecedor das
falcatruas do amigo)
não hesita em desmenti-lo.
―
Que arrastar o navio o quê,
ô
malandro! Naquele bote
havia
mais sete remando e
até
onde pude ver,
tu
era o que mais fazia
corpo-mole!
Estevãn reage fazendo
ares de ofendido.
―
Posso ser mole como
uma
alforreca quando
encaro
trabalho pesado,
mas
se a coisa aperta
sou
mais firme que uma ostra...
― E
de idêntico raciocínio...
– completa Ramirez sarcasticamente.
―
É, estou curioso...
Como
se livrou quando
os
botes foram suspensos
em
pleno ar?
O escocês questiona-o intrigado.
―
Bem, enquanto todos
em
minha volta caiam
como
maças maduras;
agarrei-me
as bordas do escaler
e
não desgrudei por mais que
ele
quisesse me jogar longe!
―
Imagino... – sorri irônico
o ex-imediato.
Estevãn faz cara de pouco caso
e continua sua fantástica narrativa
(como no geral são todas
as estórias do Onça...).
―
Quando o bote soltou-se,
admito
que assisti
minha vida inteira
passar
perante meus olhos!
E o
mais esquisito
é que só vi tavernas
e
botijas de rum...
―
Não acho isso nem
um
pouco estranho...
– glosa jocoso Ramirez
mal contendo uma risada.
―
Não o interrompa!
Quero
saber como ele se safou!
– interpela o Aranha-Do-Mar.
Sentindo muito importante
com aquela súbita defesa,
o Onça prossegue empolgado e
a cada frase dita por ele,
Ramirez fazia um motejo:
―
Apesar disso sabia que
de
alguma forma escaparia vivo...
―
“Vaso ruim...”
―
Agarrei-me com firmeza
e
joguei o corpo para trás...
―
“Entrei em pânico e me desesperei...”
―
Quando o bote bateu na água...
―
“Me mijei todo...”
―
Graças à solidez com que
me
aferrei ao escaler...
―
“Paralisado de medo...”
―
Não caí do barco e pude
ajudar
outros a salvarem-se.
―
“Pois alguém tinha que remar
e
não seria eu!”
Mesmo esforçando-se
para manter a atenção
ao que Estevãn dizia,
Cervantes não consegue
segurar o riso diante da
interpretação jocosa que
Ramirez fazia de cada
trejeito do Onça.![]() |
Em terra, Sangre observa o pouso d'El Bravio de Los Mares... |
![]() |
...ao largo da Ilha do Desespero. |
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Apesar do bom humor de seu capitão, Ramirez não tem muito o que comemorar... |
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...ante a visão dos companheiros mortos e meio comidos pelos... |
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...famintos tubarões! |
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Aos poucos os piratas reúnem-se em terra e os ânimos melhoram ao perceberem que agora não tardava a partida! |
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Menos o estado de espírito de Chuk-Chuk MacGregor que perdeu um conterrâneo e amigo na goela dos peixes! |
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Se veio até aqui, não recue!
Se és contra, a favor ou muito pelo contrário(?!),
tanto faz...
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E uma certeza podes ter como absoluta:
RESPOSTA TU TERÁS!!!!!!