Coberto pelo velame
e mais o peso dos cabos,
a fera viu-se
momentaneamente imobilizada.
A plateia fica pasma
diante da surpreendente
reviravolta. Sem perder tempo
Onça pega um cabo solteiro
e faz um nó oito
em um das pontas;
ato contínuo guarda a lasca
junto à cintura e segura firme
na mão direita o cordame.
É quando sua atenção
é trazida de volta ao
selvagem adversário:
enfurecido, o animal estraçalha
os panos que o continham
e urrando parte na direção do Onça.
No que parece ser
uma atitude mais louca
que de costume
ao invés de correr da criatura,
ele investe na direção dela!
E justamente quando a besta
salta sobre ele,
Estevãn lança-se ao convés
com as pernas para frente,
deslizando o corpo
rente ao chão, passando
sob os membros inferiores
do imenso símio
precisamente quando este
impulsionava o corpo
durante o pulo.
Demonstrando
invulgar (e aprimorada!)
ambidestria desfere um
murro certeiro com a canhota
nos cojones
do grande macaco
e com mão direita enlaça
uma das patas da fera
com o cabo.
O nó oito fecha-se
de modo inapelável.
Com algumas braças
de distância de corda
entre ele e o animal
momentaneamente confuso
(e dolorido), Onça rapidamente
amarra a outra ponta do cordame
ao cabo que sustenta
a vela principal.
É quando, recuperado
e enraivecido o gorila
volta-se vendo sua presa
ao alcance de alguns pulos
e dispara veloz,
bramindo com
as presas à mostra
e garras afiadas!
Diante daquela montanha
de pelo espesso, escuro e luzidio
como o manto negro da Morte,
a investir célere contra si,
o bucaneiro clama aos Céus, aflito:
― Deus, essa coisa é imune a tudo?
Mas não era o momento
de se desesperar,
ele tinha um plano
e precisava manter
a cabeça no lugar.
Virando-se para o mastro
golpeia com a farpa
o cabo em que amarrara a corda.
Imediatamente a vela despenca
e o cabo sobe com força,
levando consigo o cordame
atado ao pé do primata
que subitamente é puxado
no exato instante em que
daria o bote sobre sua presa.
Violentamente erguido
e suspenso no ar como
uma penca de linguiças!
Urrando e debatendo-se em vão
a besta não tem como fugir
da arapuca que Estevãn
tão ardilosamente urdira para ela!
O navio inteiro fica
mudo de espanto,
mas aos poucos uma palavra
ecoa através da nau,
cada vez mais alta:
― ONÇA! ONÇA! ONÇA!
ONÇA! ONÇA! ONÇA!
ONÇA! ONÇA! ONÇA!
ONÇA! ONÇA! ONÇA!
ONÇA! ONÇA! ONÇA! ONÇA!!!!!!
Surpreso como em
raríssimas vezes,
Sangre não sabe se mata
aquele infeliz ou o promove:
conseguira granjear
a simpatia
de todos a bordo com sua façanha!
Atado a palavra empenhada
o capitão acha melhor
mantê-lo vivo, como
uma espécie de mascote.
Mais tarde aplicar-lhe-ia
um “tratamento especial”...
Pavor, medo e oportunismo:
Onça consegue derrotar
a força bruta do gorila
usando astúcia;
como sempre tem mais
sorte que juízo,
mas arranca a vitória (e a vida)
das garras da morte certa.
Os amigos vêm até ele
cumprimentá-lo pelo prodígio.
MacGregor é o primeiro
a estender-lhe a mão.
― Juro que dessa vez achei
que tu não iria se safar!
Imediatamente
Cervantes contrapõe:
― Eu não! Onça sempre
arrumou uma saída
das confusões em que se mete.
Mas, de onde veio
aquele macacão?
E Ramirez toma a palavra:
― Da aldeia. Foi um presente
do feiticeiro ao capitão
na noite anterior ao ataque.
O Aranha-Do-Mar
puxa pela memória
e assente com a cabeça.
― Eu me recordo vagamente
de ouvir sobre isso...
Mas como essa fera
chegou até aqui?
― Disso não faço a menor idéia!
Nisso o contramestre
aproxima-se e fala a Ramirez:
― Imediato, o capitão
está chamando-te.
Onça estranha o modo
como Plunkett o nomeou
e indaga:
― Como assim “imediato”?
Esse posto não é do Pierre?![]() |
Estevãn lança mão de um cabo solteiro... |
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...e célere faz um nó em oito... |
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...bem a tempo, pois o gorila já livrara-se do embaraço que o pirata lhe aprontara... |
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...e o Onça não dispunha de mais que uns poucos segundos... |
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...antes que a criatura avançasse sobre ele e o estraçalhasse! |
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Mas para a surpresa de todos Estevãn vira o jogo e sobrepuja a fera com astúcia... |
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...levando a tripulação ao delírio com sua façanha! |
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Até o próprio Sangre fica impressionado com a inteligência e coragem do velho beberrão! |
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Atreva-se, diga-me o que está pensando!
Se veio até aqui, não recue!
Se és contra, a favor ou muito pelo contrário(?!),
tanto faz...
Afinal, esta é uma tribuna livre.
E uma certeza podes ter como absoluta:
RESPOSTA TU TERÁS!!!!!!