Google+ A Balada do Velho Marinheiro - VII (final) | A Pirâmide de Kukúlkan

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A Balada do Velho Marinheiro - VII (final)


A Balada do Velho Marinheiro

EM SETE PARTES


PARTE VII

Vive o Ermitão piedoso nesse bosque anoso
Que desce para o mar.
Quão doce eleva a sua voz altissonante!
Com marinheiros vindos de qualquer quadrante
Ele ama conversar.
(O Eremita do Bosque,)

De manhã se ajoelha, e ao meio-dia, e à tarde...
Tem fofo travesseiro:
O velho e apodrecido toco de carvalho
Que o musgo envolve inteiro.

O bote aproximou-se; e ouvi as suas vozes:
"Ora, é estranho, é irreal!
As belas luzes onde estão, que ainda há pouco
Nos faziam sinal?"
(Aproxima-se do navio com espanto.)

"Estranho, à fé!" disse o Eremita... "Nem resposta
Deram a nosso brado!
A tabica empenada! E vede o seu velame
Ressequido e esgarçado!
Nunca vi nada igual em minha vida, a menos
Que seja comparado

Aos espectros das folhas mortas, essa turba
Que ao leito do regato entope e rouba,
Quando na moita de hera a neve se demora
E o mocho pia para o lobo que devora
Os filhotes da loba."

"Meu Deus! Meu Deus! Como é sinistro seu aspecto..."
(É do outro a voz aflita.)
"Estou morto de medo..." - "Avante, avante!" clama
Animado o Eremita.

O bote veio e se encostou junto ao navio:
Eu não falei nem me movi.
O bote veio e se encostou sob o navio;
E um som súbito ouvi.

N'água um surdo rumor, sempre mais alto e horrível
O abismo todo inunda;
Ele corta a baía, ele alcança o navio,
Que como chumbo afunda.
(Subitamente o navio afunda.)

Quadro 31: O redemoinho

Aturdido deixou-me o som alto e medonho,
Que sacudiu o oceano e o céu;
Como afogado há sete dias (eu suponho)
Boiou o corpo meu;
Porém, com o Piloto, rápido qual sonho,
No bote vejo-me eu.
(O velho Marinheiro é salvo pelo bote do Piloto.)

Quadro 32: O piloto


No redemoinho

do naufrágio o bote gira

Ao redor, ao redor;

Depois, silêncio... Exceto o monte, que defronte
Repetia o fragor.

Movi meus lábios... O Piloto deu um grito
E tombou desmaiado;
O Ermitão santo ergueu os olhos e rezou,
Ali mesmo, a seu lado.

Tomei os remos: o ajudante do Piloto
Se pôs a delirar;
Longo tempo arrastou ruidosa uma risada,
Os olhos a rolar;
"Ha! Ha!" disse ao cabo, "agora sei que o Diabo
Também sabe remar."

E por fim eis-me ali, pisando em terra firme
Na própria terra minha!
Quando o Ermitão depois abandonou o bote,
De pé mal se sustinha.

"Absolve-me, santo homem!" E o sinal da cruz
O Eremita me fez.
"Diz-me depressa," inquiriu ele, "diz, te peço:
Que espécie de homem és?"
(O velho Marinheiro sinceramente suplica ao Eremita que o absolva; e sobre ele recai a penitência para a vida.)


Quadro 33: Oh, me absolva, homem santo.

Esta carcaça; desde então foi torturada
Por atroz agonia;
E apenas quando eu relatava a minha história
Livre dela me via.

Sempre aquela agonia - e sempre em hora incerta -
Retorna desde então;
E enquanto a minha história tétrica não conto,
Queima-me o coração.

Quadro 34: Estranho poder do discurso
Tenho um estranho dom do verbo; e, como a noite,
Errar de terra em terra é meu destino;
No momento em que vejo um rosto num lugar,
Eu sei que é o homem que precisa me escutar,
E meu caso lhe ensino.
(E para todo o sempre em sua vida futura uma agonia o compele a errar de terra em terra;)

Quadro 35: Eu sei qual o homem precisa me ouvir

Quem suporta o clamor que jorra aquela porta!?
Os comensais lá estão;
Mas no jardim a noiva e as damas de honra cantam
Sob o caramanchão;
Ó, escuta o humilde sino do ângelus que agora
Me convida à oração!

Quadro 36: Os convidados do casamento

Convidado Nupcial! Esta alma esteve só,
Num largo, largo mar...
Era tão vasto e tão vazio, que o próprio Deus
Lá não devia estar.

Quadro 37: Tão solitário...
Ó, bem mais doce do que as bodas para mim -
Porque a maior doçura -
É encaminhar-me em companhia para a igreja,
Na devoção mais pura!

É encaminhar-me em companhia para a igreja
E orar à luz das velas,
Enquanto cada qual ao Pai dobra os joelhos -
Bons amigos, crianças, jovens, velhos
e as alegres donzelas!

Adeus, adeus! Porém... acrescentar convém,
Convidado Nupcial:
somente reza bem aquele que ama bem
Homem, ave e animal.

Somente ora melhor quem sabe amar melhor
A tudo, grande e miúdo;
Pois o bondoso Deus, que tem amor por nós,
Ele fez e ama tudo.
(E a ensinar através do próprio exemplo, o amor e a reverência por todas as coisas que Deus criou e ama.)

E foi-se o Marinheiro - cintilante o olhar
E a barba branca e vasta;
E das portas do noivo o Convidado agora
Lentamente se afasta.

Quadro 38: O marinheiro se vai.

Caminhou como alguém a cujo senso aturdem
Desvario e ressábio...
E, na manhã seguinte, levantou-se um homem
Mais sombrio e mais sábio.

1797-1798
O Autor:
Samuel Taylor Coleridge (Ottery St. Mary, Inglaterra, 21 de Outubro de 1772 - 25 de Julho de 1834), comumente designado por S.T. Coleridge, foi um poeta, crítico e ensaista inglês. Considerado, ao lado de seu colega William Wordsworth, um dos fundadores do Romantismo na Inglaterra.
Depois de publicar alguns poemas em 1796, escreveu, em parceria com o poeta William Wordsworth, Baladas líricas (1798), que se tornou um marco da poesia inglesa e em que se destaca a sua famosa Balada do antigo marinheiro, um dos primeiros grandes poemas da escola romântica. Mais tarde, escreveu o poema simbólico Kubla Khan e o poema místico-narrativo Cristabel.
Sua principal obra em prosa, Biographia Literaria (1817), é uma série de dissertações e notas autobiográficas sobre diversos temas, entre os quais destacam-se suas observações literárias.
Influenciou toda uma geração de novos escritores, como Quincey, Byron e Shelley.

Biografia:


Coleridge nasceu em Ottery St Mary, no condado inglês de Devonshire, sendo o filho caçula do segundo casamento do pastor protestante John Coleridge. Por ser o preferido da família, sofria perseguições de seu irmão Frank. Para escapar dos abusos dele, Coleridge freqüentemente se escondia na biblioteca local, fato que lhe despertou a paixão pela literatura. Outro fato que marcou sua infância em Devon foi a sua fuga de casa aos sete anos, sendo encontrado na manhã do dia seguinte por um vizinho. Esta noite passada fora de casa servia-lhe como tema freqüente de seus poemas.
Com a morte do pai em 1771, foi estudar, contra sua vontade, em instituições religiosas de Londres, onde se destacava como leitor voraz e, não raro, entre os melhores alunos de sua turma. Entretanto, sentia-se só, pois raramente lhe era permitido rever a família. Em seu poema “Frost at Midnight”, escrito posteriormente, Coleridge fala sobre sua solidão na escola.
Seu irmão Luke morre em 1790 e sua única irmã Ann em 1791, o que lhe fez escrever “Monody”, um de seus primeiros poemas, onde Samuel comparava-se a Thomas Chatterton, poeta inglês que se suicidou aos 17 anos. É nesta época que ele inicia seus problemas com álcool e com mulheres. Mais tarde ele passaria a ter também problemas com ópio, droga que começou a usar para aliviar-se de dores causadas por problemas de saúde. Em 1791 ingressa na Universidade de Cambridge. Em 1792 ganhou um prêmio por uma ode sobre o tráfico de escravos.
Em 1793 alista-se no exército com o nome falso de Silas Tomkyn Comberbache, supostamente por problemas com dívidas ou com mulheres. Por sua completa inaptidão para as armas e montaria, escapou de ser enviado ao campo de batalha na França. Após quatro meses, um de seus irmãos usou sua influência no exército para conseguir a baixa de Coleridge por insanidade.
Na universidade, nunca concluída, Samuel passou a defender ideais revolucionários com seu recém-amigo poeta Robert Southey. No mesmo ano escrevem a peça “A queda de Robespierre” e planejam emigrar para a Pensilvânia e fundar uma sociedade utópica denominada de Pantisocracia. Robert Southey desiste de emigrar e torna-se advogado.
No ano de 1795 Coleridge casa-se com Sara Fricker, cunhada de Southey, com quem teve quatro filhos. O casamento de Coleridge foi infeliz, terminando em divórcio pelo seu estilo de vida e por ele ter tido um amor não correspondido por outra Sara, de sobrenome Hutchinson. Neste mesmo ano ST é apresentado a William Wordsworth e sua irmã Dorothy. A amizade foi imediata e os três escreveriam muitos poemas juntos.
A obra “Poemas”, publicada em 1797, é bem recebida e ele começa a ficar famoso. Até 1798 escreveria suas mais famosas obras, com o poema simbolista Kubla Kahn e a primeira parte de Cristabel, além de “This Lime-tree Bower My Prison”, “Frost at Midnight” e “The Nightingale”.
Foi em 1798 que, junto com William Wordsworth, publicou as “Baladas Líricas”, poemas inovadores e considerados precursores do romantismo. Entre as obras deste volume, sobressaiu-se o longo poema de Coleridge A Balada do Velho Marinheiro.
Em setembro daquele ano viajou junto com os irmãos Wordsworth para a Alemanha. Quando estava fora ocorreu um triste incidente: Coleridge perdeu sua filha Berkeley devido a uma reação a uma vacina da época. No tempo em que passou na Alemanha, além de estudos da língua alemã, interessou-se pela obra do filósofo Immanuel Kant, que passou a divulgar quando retornou à Inglaterra para morar em Lake District, Cumberland, em 1800.
Na alta umidade daquele local, sua saúde piorou, sua dependência ao ópio aumentou e seus problemas matrimoniais se intensificaram. Coleridge escreveu seu poema “Dejection: An Ode” (Melancolia: Uma Ode) e intensificou seus estudos filosóficos.
Em 1804 foi para Malta e andou pela Itália com esperanças de curar-se pelo clima mais seco da região. Retornou em 1806, quando separou-se de sua esposa. Já não tinha a amizade de William e passou a ganhar a vida escrevendo artigos para jornais e realizando palestras.
Sem conseguir livrar-se de seu vício no ópio, a partir de 1810 passou a morar na residência do farmacêutico James Gillman, onde terminou seu livro de prosa “Biographia Literária (1817)”, além de outros escritos como “Sibylinne Leaves” (1817), “Aids to Reflection” (1825) e “Church and State” (1830), além de tratar da republicação de algumas de suas obras. Por volta de 1830 as revisões críticas sobre sua obra lhe eram bem favoráveis e ele tido como um bom crítico literário, embora nunca tivesse alcançado sua independência financeira.
Coleridge morreu com inesperada serenidade aos 61 anos e foi enterrado no jardim da casa do dr. Gillman, em Highgate, no subúrbio de Londres, deixando de herança somente alguns livros e anotações. Depois de sua morte, seu sobrinho Henry Coleridge e a esposa Sara (Filha de Coleridge) organizaram a obra dispersa do poeta, publicando vários livros.
Coleridge era considerado um espirituoso conversador e dizia-se que vivia entre metáforas e sonhos. O crítico Stopford Brooke assim o definiu: “Tudo o que merece ficar de Coleridge poderia ser reunido em vinte páginas e estas vinte páginas deveriam ser encadernadas em ouro!”

Principais Obras:

A Balada do Velho Marinheiro (The Rime of the Ancient Mariner, 1797)
Kubla Khan (Kubla Khan, 1798)

Cristabel (Christabel, 1800)
Sidinei Lander da Silva Pereira: Mestre de RPG, aprendiz de escritor, leitor voraz, quadrinista fanático, cinéfilo compulsivo, agnóstico independente, livre-pensador, fã incondicional de O Senhor dos Anéis (livro e filme), música para mim é Clássica, Jazz, Blues, Rock'n Roll e Metal! E tenho dois gatos... Quer saber mais sobre mim? Veja meu perfil no Google Plus!

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