Google+ A Balada do Velho Marinheiro - V | A Pirâmide de Kukúlkan

O último reduto onde os Asseclas do CONCLAVE encontram-se...

A Balada do Velho Marinheiro - V


A Balada do Velho Marinheiro

EM SETE PARTES


PARTE V

Ó Sono! Ó Sono, que é de pólo a pólo amado,
Suave essência, e calma!
Nós devemos louvar Maria no seu trono!
Foi ela quem mandou este suave sono
Que desceu em minh'alma.


Sonhei que os baldes, tanto tempo no seu ócio
Ditoso no convés,
Encheram-se de orvalho; mas, quando acordei,
Era chuva ao invés.


Molhadas minhas vestes, úmidos meus lábios,
Minha garganta, fria;
Por certo havia bebido nos meus sonhos,
E o corpo ainda bebia.
(Pela graça da santa Mãe, o velho Marinheiro é revigorado pela chuva.)


Eu então me movi, mas não sentia os membros:
Tão leve estava... Quase
Imaginei que no meu sono havia morrido,
E era espírito em êxtase.


Mas logo ouvi um vento que rugia ao longe -
Um rumor afastado;
Mas só este som já sacudiu todo o velame,
Ressequido e esgarçado.


A vida irrompe no ar! Cem flâmulas-de-flama
Coriscam sobre os mastros,
Indo e voltando, à frente e atrás, rapidamente;
E dentro e fora, para trás e para frente,
Dançam em meio aos astros.
(Ele ouve sons e vê estranhas visões e comoções no céu e no elemento.)


E o vento ao vir ruge mais alto; qual carriça,
Suspiram velas, cordas;
E a chuva se despeja de uma nuvem negra,
Com a Lua em suas bordas.


Quadro 21: A chuva caía de uma nuvem negra


Inda lá estava a Lua, quando negra e espessa
A nuvem se partiu:
Como de alto penhasco tomba a catarata,
O relâmpago veio numa linha exata,
Um fundo e largo rio.


Nunca atingiu o barco o rumoroso vento -
E o barco era impelido!
Por sob a Lua e o coriscar, os mortos deram...
Sim, deram um gemido.


Gemeram, se moveram, e depois se ergueram,
Sem falar, sem olhar;
Mesmo em sonho, era estranho ver tanto homem morto
Do chão se levantar.


Quadro 22: Todos eles se levantaram


Manobra o Timoneiro, a nave se desloca,
E sem nenhuma aragem;
Os marujos se põem a trabalhar nas cordas,
E tal como antes agem;
Instrumentos sem vida tornam-se seus membros...
Que tétrica equipagem!
(Os corpos da tripulação do navio são inspirados e o navio se move.)


Postado frente a mim, puxando a mesma corda,
Era-me companhia,
Joelho com joelho, o corpo de um sobrinho;
Mas nada me dizia.


"Tenho medo de ti, ó velho Marinheiro!"
Por que, convidado, te espantas?
Em vez de seus espíritos atormentados,
Ora os cadáveres estavam animados
Por legião de almas santas:
(Mas não pelas almas dos mortos, nem por entidades da terra ou do ar intermediário, mas por uma legião abençoada de espíritos angélicos, enviada pela invocação do santo guardião.)


Pois quando amanheceu, os braços de seus caídos,
Ao mastro envolve o bando;
Das bocas se elevaram lentos sons suaves,
De seus corpos passando.


Voava à volta, à volta, cada som suave
E rumo ao Sol subia;
E lento eles tornavam - um por uma agora,
Agora em harmonia.


Ouvia às vezes, como que a chover da altura,
A voz da cotovia;
Às vezes toda a passarada em seu gorjear,
Gorjear que parecia encher o céu e o mar
Com doce melodia!


E ora lembrava alguma flauta solitária,
Ora instrumentos agrupados;
Mais tarde se tornava um canto angelical,
Que os céus ouvem calados.


Cessou... Mas no velame, até o meio-dia,
segue um murmúrio ameno,
Igual ao do regato no frondoso junho,
Que, oculto no terreno,
Embala a noite inteira os bosques a dormir,
Com seu canto sereno.


Quadro 23: As velas faziam um ruído agradável


Até o meio-dia o navegar foi calmo...
Mas sem nenhuma brisa:
impelido por baixo, lenta e livremente
Nosso navio desliza.


Nove braças ao fundo, sob a sua quilha,
Do lar de névoa e neve
O Espírito se esgueira; é quem empurra o barco
Num movimento leve.
(O Espírito solitário do pólo sul leva o navio até a linha do equador, em obediência à legião angélica, mas ainda exige vingança.)


O canto do velame pára ao meio-dia,
E o navio parar deve.
A pico sobre o mastro, o Sol o havia cravado
Naquele oceano manso;
Mas num minuto ele voltou a se mover,
Num breve e duro avanço...


À frente e atrás, não mais que o meio de seu casco,
Num breve e duro avanço.
Então, como um cavalo escarvador que é solto,
Saltou inesperado;
Fez que o sangue à cabeça me subisse,
E caí desmaiado.


Quadro 24: Eu caí em um desmaio


Quanto tempo durou o desfalecimento
Eu não sei afirmar;
Mas, antes de vivente vida novamente,
Eu pude ouvir e discernir em minha mente
Um par de vozes no ar.


Quadro 25: Duas vozes no ar


"Este?" disse a primeira, "O homem então é este?
Por Cristo, que morreu por nós!
Sua mão funesta é que prostrou com uma besta
O inocente Albatroz.


O Espírito, que habita inteiramente só
O lar de névoa e neve,
Amava aquele pássaro que amava este homem
Que o mataria em breve."


A segunda, entretanto, era uma voz mais doce,
Doce quanto o maná;
Disse ela: "Este homem fez bastante penitência,
E muito mais fará".
(As entidades-companheiras do espírito polar, os habitantes invisíveis do elemento, compartilham sua indignação; e dois deles relatam, um para o outro, que longa e dura penitência havia sido imposta ao velho marinheiro pelo Espírito Polar, que retorna ao sul.)

Sidinei Lander da Silva Pereira: Mestre de RPG, aprendiz de escritor, leitor voraz, quadrinista fanático, cinéfilo compulsivo, agnóstico independente, livre-pensador, fã incondicional de O Senhor dos Anéis (livro e filme), música para mim é Clássica, Jazz, Blues, Rock'n Roll e Metal! E tenho dois gatos... Quer saber mais sobre mim? Veja meu perfil no Google Plus!

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