A Balada do Velho Marinheiro
EM SETE PARTES
PARTE III
Um tempo de cansaço! A seca na garganta,
No olhar vidrado um véu.
Cansaço! E que luzir em cada olhar vidrado,
Cansado atrás de um véu.
Quando eis que de repente, os olhos no poente,
Eu vi algo no céu.
(O velho Marinheiro avista um sinal ao longe no elemento.)

De início parecia uma pequena mancha,
E depois uma bruma!
Avançava e avançava, até que certa forma
Ele tomou, em suma.

Uma mancha, uma bruma, certa forma, em suma!
E sempre, sempre avança...
Como a esquivar-se de um espírito marinho,
Mergulha e vira e dança.

Com garganta insaciada, a boca negra assada
Riso e pranto cancela;
Nessa aridez, ante a equipagem muda e langue,
O meu braço mordi, suguei o próprio sangue,
E gritei: Uma vela!
(Com sua maior aproximação, parece-lhe ser um navio; e a duras penas ele liberta sua fala dos grilhões da sede.)

Com a garganta insaciada e boca negra assada,
Atônitos parecem;
Graças a Deus! exclamam; riem, riem bastante...
E todos tomam fôlego naquele instante,
Como se eles bebessem.
(Um lampejo de júbilo;)

Vede! Vede! (Gritei) - Não mais vacila! Vem
Salvar-nos certamente;
Navega firme com a quilha levantada,
Sem vento, sem corrente!

Agora o oceano no ocidente era um incêndio:
A tarde no arrebol!
Quase pousara sobre o oceano no ocidente
Largo e luzente o Sol;
Foi quando aquela forma estranha se interpôs
Justo entre nós e o Sol.
(Parece-lhe apenas o esqueleto de um navio.)

E com barras o Sol logo ficou listrado
(Ó Mãe do Céu, socorre o crente!);
Parecia espiar por grades de masmorra,
Com rosto enorme e ardente.
(E suas balizas são vistas como barras sobre a face do sol poente.)

Ai de mim! (eu pensei, e o peito martelava)
O espaço, como ganha!
Seriam suas velas o que ao sol cintila
Como teias de aranha?

O arcabouço talvez - que encerra a luz do Sol
Em grades de madeira?
Seria essa Mulher sua tripulação?
Ela seria a MORTE? Ou ambas que lá estão?
A MORTE é a companheira?
(A Mulher-Espectro e sua companheira Morte, e ninguém mais a bordo do navio esqueleto.)

Seus lábios eram rubros; seu olhar, lascivo;
Sua trança, auri-amarela;
Sua pele, como a lepra, era de um branco forte;
Ela era o próprio Pesadelo VIDA-EM-MORTE,
Que o sangue humano gela.
(Tal nave, tal tripulação!)

Chegou a nua carcaça; e o par, a jogar dados,
fazia desafios;
"É o fim do jogo!" a Mulher diz, "Ganhei! Ganhei!"
E dá três assobios.
(A Morte e a Vida-em-Morte disputam nos dados a tripulação do navio, e ela - a última - conquista o velho Marinheiro.)
É escuridão total.
Num sussurrar distante, sobre o mar dispara
O navio espectral.
(Nenhum crepúsculo nas cortes do Sol.)

Tudo ao redor o ouvido escuta o e olhar perpassa!
Meu sangue vital sorve, como numa taça,
Em meu peito o temor!
Apagam-se as estrelas, densa é a escuridão;
Lívida a face do piloto à luz junto ao timão!
Nas velas o orvalho é um suor...
Até que a Lua sobe ao longe no oriente,
Nos cornos envolvendo estrela refulgente
Junto à porta inferior.
(Ao levantar-se a Lua,)

Um por um, pela Lua que os astros acuam,
Sem tempo de gemer ou suspirar,
Todos viram-me o rosto, com horrenda angústia
E maldição no olhar.
(Um após o outro,)
Que, sem suspiro e sem gemido algum,
Com um baque pesado, quais massas inertes,
Caíram um por um.
(Seus companheiros tombaram mortos.)

Suas almas voaram... para a danação,
Ou para a eterna paz.
E essas almas silvavam, ao passar por mim,
Qual minha seta o fez.
(Mas a Vida-em-Morte começa a trabalhar o velho Marinheiro.)

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