PIRATAS!!! - Cap. 307

Virando-se a seu interlocutor, 

os olhos vidrados como 

os de um errante, 

a pele do rosto avermelhando, 

colérico, põe o dedo no peito 

do companheiro oficial 

e vocifera:

― Preste atenção, Narval: 

para derrotar Sangre 

eu me aliaria ao próprio demônio 

e escarraria na cruz! 

Escreva com teu sangue, 

amigo: nem se o próprio Jesus Cristo 

andasse sobre estas águas 

eu hesitaria em bombardeá-lo!

Drake vira-lhe as e empunha a luneta, 

pondo-se a perscrutar o horizonte 

em busca de uma brecha 

por onde esgueirar seu navio.

Narval engole a revolta, 

bem sabe que Francis já perdeu muito 

nas mãos imundas de Sangre.

A ele próprio arrancara-lhe um irmão...

Naquele momento 

El Bravio de Los Mares 

encarava a parte mais tinhosa 

de sua vereda: 

os contrafortes dos Penhascos da Dor!

Raríssimos navios escaparam 

de soçobrar naquele lugar. 

Os fluxos e refluxos das marés, 

a viração intensa, 

as repentinas golfadas de águas 

oriundas de cavernas submarinas 

nas encostas do paredão, 

a variação de profundidade aqui e ali... 

Tudo tornava a tarefa de guiar 

aquela nau incólume 

entre os recifes escarpados 

de um lado 

e a muralha rochosa do outro, 

não uma demonstração de habilidade, 

mas um verdadeiro miráculo! 

Pierre já não sentia mais o corpo, 

seus braços tornaram-se 

uma extensão do próprio timão! 

Hipnotizado pelo mar, 

sua mente parecia alheia 

a tudo em derredor. 

Era como se capitão, 

tripulação, navio, 

ingleses, canhões, 

tiros, tudo isso fossem 

sombras às suas costas.

Havia apenas ele, o leme e o mar a sua frente.

E nada mais.

Francis Drake se irrita com Narval
que insiste em questioná-lo!

Dando as costas a seu amigo, volta-se a sua luneta...

...enquanto Narval, por sua vez,
afasta-se tentando compreender
as trevas que nublam o raciocínio
do maior corsário da rainha.

  

Nesse meio tempo, El Bravio de Los Mares
enfrenta o inferno:...

... um dos piores pedaços de mar em todo o Atlântico...

...cercado por paredões rochosos...

...e recifes mortíferos!

Mas ao leme, Pierre nada teme
e conduz a nau com mão de ferro!